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O lixo de cada dia.

Informamos a questão de um mês, que aqui no Rancho Canela do Mato, estávamos reciclando o lixo. E muito de nossos clientes nos contataram para que recolhêssemos alguns elementos considerados recicláveis. Isto virou um tema a mais para pensarmos em solução. A Maria Luiza até me disse: – Mais uma frente Keli?

preciso mais espaço para armazenar…

A questão é que eu tenho uma bronca com plástico desde que comecei a me envolver com alimentação sustentável, pois aprendi que as embalagens não fazem parte do contexto produtivo olhado da perspectiva sistémica. Nem preciso dizer todo os impactos deste lixo que produzimos. Deixo a dica para quem quiser se aprofundar olhar os educativos vídeos do Story of Stuff que em poucos minutos dão uma ideia preciosa sobre o ciclo complexo do lixo que produzimos.

Está bronca me leva a ser intransigente com embalagens. Fico “atacada” quando tenho que “desembalar” produtos. Peço ao Eduardo que não utilize tantos plásticos quando fazemos compras no super. Peço caixas de papelão no super para carregar minhas compras. Recuso as “bolsinhas” nas lojas. Bem você pode imaginar a expressão no rosto das pessoas que me veem fazer um ou outro destes gestos.

Ai, enquanto isto no  Empório Canela do Mato, para transportar os alimentos decidimos levar em cestas. Já era um desafio, conseguir cestas de diversos tamanhos, por um preço justo, que fossem duráveis. Começamos utilizando sextas que eu tinha em casa. Compramos mais quatros de um assentamento indígena. Compramos mais 3 de um forasteiro que vendia de porta em porta pela cidade. E é tudo.

cestas lindas e coloridas!

Nossos clientes adoram quando vem aquelas cestas. Nós adoramos ver as cestas repletas de alimentos coloridos. Mas não é pratico! Está é a questão.

Dez cestas na caçamba do carro e umas no colo do tudo bem. Mas aí começamos a entregar para 15, 16, 17, … consumidores. Sabe o que? Automaticamente eu fui lá na lojinha de embalagens e comprei bolsa plásticas, e caixinhas plásticas, e papel filme, fitas de plásticos, bandejas de isopor. E toquei minha vida no Empório. Pessoalmente segui brigando com as bolsas plásticas nas lojas.

Bem, até que em um curto período de tempo, duas consumidoras conscientes do Empório me mandaram mensagens bem contundentes que reproduzo baixo:

[23:43, 13/3/2019] Leniza: Boa noite! Mas com cordinhas de algodão e sem bandejas de isopor please!

[23:44, 13/3/2019] Leniza: Eu tô  tentando me policiar...

A outra foi:

[10:12, 24/3/2019] Miriam: Queridos amigos, bom dia lindo! Gostaria de estar aí, conversar pessoalmente. Pela mensagem eu corro o risco de não ser compreendida. Mas vou mesmo assim dar uma ideia. Desculpa se me meto o de não sou chamada. Eu reconheço todo o trabalho lindo e necessário de vocês, adoro o carinho com que nos entregam a colheita. Mas tem algo que preciso pedir, pelo menos para mim. Não precisa entregar as verduras e legumes em embalagens plásticas e de isopor. Podem colocar tudo amarrado com cordão de algodão ou sisal mesmo. Se for necessário. Penso que eu vou adquirir duas sacolas de pano, assim uma vem e outra vai. O que acham? Eu identifico com o meu nome. Prefiro receber sem plásticos. Espero que me entendam. Falo com todo carinho e respeito. 😘😘🌺🌺

Um terceiro consumidor coincidentemente me devolveu a bolsa plástica que entreguei os produtos no mesmo momento da entrega. E me disse: Eu tenho minha bolsa reciclável quer ver, vou te mostrar.

Longe de mal interpretar o pedido dos três, eu me envergonhei da situação. Tão logo eu que fico em casa dando moral em todo mundo para não usar plásticos. Reciclo tudo de plástico que a família me dá. Forro pote de sorvete para colocar meus materiais de artesanato. Uso vidrinhos para guardar sementes e temperos. Faço capinha de crochet para vidro de café soluvel onde armazeno o mel.

Como diz uma amiga minha: me caíram os butiás do bolso.

Claro que aqui na propriedade eu já estava tocando o projeto de recolher lixo dos vizinhos para vender e construir um local para todos poderem esperar o ónibus fora do sol, ou chuva, ou vento. Mas de alguma maneira fui tragada pelo inconsciente da praticidade da sacola de plástico.

Comecei a reformular o formato das embalagens. E estou nisto agora. Sim, comprei bolsas de plástico, agora recicláveis, caixinhas plásticas para colocar entregas menores e caixas grandes para entregar pedidos maiores. A Miriam. e  a Pema, e a Patrícia me entregaram sacolinhas recicláveis para colocar seus produtos. E assim vamos resolvendo junto a questão das entregas.

Outro dia fui deixar uns produtos em uma instituição. Nosso consumidor não estava, mas tinha pedido para outras pessoas receberem seus produtos. Eu levei tudo em uma caixa plástica e precisa de um local para transferir os produtos. Foi quando a pessoa que iria receber me perguntou: E a sacola de plástico? Está tudo solto? Como vou receber? Eu respondi: – somos agrogeológicos em tudo até nas embalagens. Eles conseguiram um saquinho plástico e colocaram tudo lá. Eu fui embora com a consciência tranquila. Pelo menos naquele dia.

Sigo neste dilema pensando em soluções. Aceito sugestões e também bolsinha reciclável.

Abraços fraternos

Keli